Análise de fármacos como o Ozempic encontra menor risco à saúde para 42 condições, mas maior probabilidade de desenvolvimento de 19 distúrbios
Pacientes que tomaram medicamentos populares para perda de peso tiveram 12% menos probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer, mas correram maior risco de desenvolvimento de distúrbios artríticos, renais e pancreáticos, de acordo com o maior estudo já feito sobre o impacto crescente destes fármacos.
Um grupo de 215 mil veteranos militares portadores de diabetes dos Estados Unidos que usaram os chamados tratamentos GLP-1 apresentaram menor risco de saúde para 42 condições e maior risco para outras 19, em comparação com aqueles que tomaram remédios mais antigos.
A análise de 2,4 milhões de pacientes reforça a pesquisa sobre como medicamentos de grande sucesso para obesidade e diabetes, como Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, e Mounjaro, da Eli Lilly, podem ter efeitos significativos em outras condições de saúde.
Os resultados do estudo de seis anos, que usou dados de saúde do departamento de assuntos de veteranos dos EUA, foram publicados na segunda-feira (20) na revista Nature Medicine.
Pesquisadores da Universidade de Washington compararam 175 resultados de saúde em pessoas tratadas com GLP-1 com aquelas que tomaram outros medicamentos para diabetes. Líder do estudo, Ziyad Al-Aly afirma que eles foram inspirados pela “popularidade crescente” dos novos medicamentos, com um em cada oito norte-americanos relatando consumo. “É importante examinar sistematicamente seus efeitos em todos os sistemas do corpo para entender o que eles fazem”, afirma.
Os pesquisadores descobriram benefícios generalizados para a saúde cognitiva e comportamental, incluindo um menor risco de desenvolver Alzheimer, que se tornou um grande foco da pesquisa do GLP-1 em ensaios clínicos.
“A redução de 12% que encontramos pode parecer um efeito fraco, mas está nos ensinando sobre a biologia da doença de Alzheimer”, diz Al-Aly. GLP-1s podem aumentar o efeito de tratamentos que visam o acúmulo de proteína amiloide tóxica no cérebro, acrescenta.
Professor de bioquímica clínica na Universidade de Cambridge, Stephen O’Rahilly, apesar de não estar envolvido no estudo, diz que os resultados tiveram que ser interpretados com cautela, pois os dados foram baseados em observações e não em um ensaio clínico e foram “fortemente distorcidos para homens brancos mais velhos”. Mas ele acrescenta que “o estudo fornece garantias úteis sobre a segurança desta classe de medicamentos”.
Os medicamentos GLP-1 funcionam de duas maneiras. Uma é indireta —reduzindo os efeitos do diabetes e da obesidade. A outra é o aumento direto da atividade do peptídeo semelhante ao glucagon 1, um hormônio que funciona nas células por todo o corpo e desempenha vários papéis biológicos além de regular os níveis de açúcar no sangue.
“O que se destacou para mim em nossos resultados é o efeito consistente na redução de transtornos de dependência”, diz Al-Aly. “Há uma escola de pensamento que diz que a obesidade é o resultado da dependência alimentar.”
No total, o grupo GLP-1 se saiu melhor em 42 resultados de saúde, variando de doenças cardiovasculares a infecções bacterianas. A maioria dos benefícios foi relativamente modesta, com reduções de risco na faixa de 10-20%. “No entanto, o efeito modesto não nega o valor potencial desses medicamentos, especialmente onde existem poucas opções de tratamento eficazes”, diz Al-Aly.
Pelo lado negativo, os GLP-1s tornaram 19 distúrbios mais prováveis. Uma descoberta surpreendente foi um aumento de 11% no risco de artrite, embora a perda de peso excessivo pudesse reduzir a dor e o inchaço nas articulações. Mas os efeitos adversos mais significativos identificados pelo estudo foram no pâncreas e nos rins.
Pesquisas extensivas são necessárias antes que os medicamentos GLP-1 possam ser amplamente prescritos para pessoas que não sofrem de diabetes e obesidade, afirma Al-Aly: “Nossas descobertas ressaltam a possibilidade de aplicações mais amplas, mas também destacam riscos importantes que devem ser monitorados cuidadosamente.”
A Novo Nordisk diz acolher pesquisas independentes que investigam a segurança, eficácia e utilidade clínica dos produtos da marca, acrescentando que os estudos, até agora, mostraram um “perfil de segurança tranquilizador” para a semaglutida, o ingrediente ativo em seus tratamentos para diabetes Ozempic e perda de peso Wegovy. Os preços dos medicamentos Ozempic e Wegovy nos EUA podem ser bastante reduzidos depois que o governo do presidente Joe Biden os incluiu na próxima rodada de negociações do Medicare.