Wagner Belo, mestre em Linguística Aplicada e doutor em Línguas Neolatinas, é coordenador de Relações Internacionais do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e esteve na Universidade de Fortaleza, instituição de ensino mantida pela Fundação Edson Queiroz, para ministrar uma palestra durante a Semana da Internacionalização. Wagner possui vasta experiência na área de internacionalização, tendo atuado em diversas instituições de ensino superior e integrado o Grupo de Trabalho de Políticas de Internacionalização no Ministério da Educação

Nesta entrevista, Wagner compartilha sua visão sobre a internacionalização das universidades brasileiras, o impacto da mobilidade estudantil e as estratégias para fortalecer as políticas de educação internacional no Brasil.


Portal Ciência: Como está a aplicação de programas de educação internacional no Brasil?

Wagner Belo: No Brasil, estamos começando a explorar de fato as potencialidades da internacionalização. Embora as instituições de ensino já reconheçam a importância de participar desse processo, ainda estamos em um estágio embrionário, especialmente no que diz respeito à estruturação da área internacional dentro das universidades. O Programa Ciências Sem Fronteiras, lançado em 2011, foi um grande impulsionador, mas ainda há muito a ser feito para consolidar a internacionalização como parte da cultura acadêmica.

Portal Ciência: Como o senhor avalia os programas de educação internacional voltados para os professores nas universidades brasileiras? Existe algum modelo que o senhor considera exemplar?

Wagner Belo: O conceito de internacionalização ainda é muitas vezes tratado de forma superficial. Antes de promover ações, precisamos entender a realidade de cada instituição e, a partir disso, pensar em ações que se alinhem a essa realidade. Algumas universidades privadas, como a Universidade de Caxias do Sul e a PUC Rio de Janeiro, já possuem programas de internacionalização bem consolidados, assim como grandes universidades públicas como a USP e a UFRJ. O modelo ideal é aquele que considera as especificidades da instituição e adapta os programas às suas necessidades e contexto.

Portal Ciência: O senhor integrou o Grupo de Trabalho de Políticas de Internacionalização no Ministério da Educação. Quais foram os principais resultados desse grupo e o que precisa ser feito para atualizar essas políticas?

Wagner Belo: A principal contribuição desse grupo foi ajudar a entender que a internacionalização vai muito além da mobilidade estudantil. O grande desafio é customizar os modelos de internacionalização para que se ajustem às necessidades de cada instituição, considerando suas perspectivas e demandas futuras. Precisamos reconhecer os desafios e adaptar nossas políticas a essa nova realidade. A internacionalização não é um modelo pronto, e sim algo que precisa ser continuamente ajustado.

Portal Ciência: Como o senhor avalia o envolvimento do Ministério da Educação na implementação e aprimoramento das políticas de internacionalização entre universidades públicas e privadas? O governo tem dado estímulo suficiente para isso?

Wagner Belo: O Ministério da Educação ainda precisa entender a importância e a complexidade da internacionalização. Embora exista um esforço para sensibilizar o Ministério sobre o impacto do setor internacional, ele ainda não dedica a atenção necessária. O governo precisa priorizar a internacionalização como parte de um plano de desenvolvimento sustentável para o país. Para isso, é fundamental que o setor receba mais atenção e suporte para consolidar os programas existentes e implementar novos.

Portal Ciência: O senhor coordenou a equipe de voluntários internacionais nos Jogos Olímpicos de 2016. Qual é a importância dos projetos de voluntariado no processo de internacionalização acadêmica?

Wagner Belo: Projetos de voluntariado, como o dos Jogos Olímpicos, têm grande impacto, pois deixam legados concretos nas instituições envolvidas. Na minha instituição, por exemplo, desenvolvemos 64 projetos internacionais, com resultados muito positivos. A chave para o sucesso está em desenvolver ações concretas e envolver toda a comunidade acadêmica, não apenas em atividades superficiais. Esses projetos proporcionam uma experiência internacional significativa para os participantes e ajudam a fortalecer as relações internacionais da instituição.

Portal Ciência: O senhor está participando da Semana de Internacionalização da Unifor. Como avalia a importância de eventos como esse para o fortalecimento da educação internacional no Brasil?

Wagner Belo: Eventos como a Semana de Internacionalização são essenciais porque permitem que a comunidade acadêmica compreenda o real impacto da internacionalização. Muitas pessoas ainda associam o setor internacional apenas à mobilidade de intercâmbio, mas ele vai muito além disso. Esses eventos ajudam a dar visibilidade às funções e contribuições do setor internacional, mostrando como ele pode agregar valor e provocar mudanças importantes nas instituições de ensino.


Sobre o profissional

Wagner Belo é graduado e especializado em Letras pela UERJ, com mestrado em Linguística Aplicada pela UFF e doutorado em Línguas Neolatinas pela UFRJ. É professor no Instituto Federal de São Paulo, no campus Jacareí, e gestor de projetos na Assessoria de Relações Internacionais (ARINTER) da mesma instituição. Coordenou o escritório de cooperação internacional do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais e integrou o Grupo de Trabalho de Políticas de Internacionalização no Ministério da Educação, dentro da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC/MEC).

Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, foi coordenador de voluntários internacionais e tradutor trilíngue nas competições oficiais. Wagner participa de programas internacionais de formação de professores e colabora com programas de cooperação internacional em diversos países. Sua experiência abrange educação internacional, cooperação acadêmica, gestão de acordos bilaterais, mobilidade estudantil, gerenciamento de projetos internacionais e formação de professores.

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