Pesquisa revela que o fármaco amplamente utilizado no tratamento de diabetes tipo 2, mostrou eficácia no alívio de dores orofaciais, especialmente em mulheres
A dor crônica afeta milhões de pessoas globalmente e representa um desafio persistente no campo da saúde. As opções de tratamento disponíveis, muitas vezes, se revelam ineficazes, financeiramente inacessíveis ou associadas a efeitos colaterais graves, comprometendo ainda mais a qualidade de vida daqueles que dependem de terapias contínuas.
Com esse cenário em mente, pesquisadores do Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX) da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino mantida pela Fundação Edson Queiroz, estão explorando abordagem surpreendente: o reposicionamento da metformina, medicamento tradicionalmente utilizado para diabetes tipo 2, como um possível tratamento para dores orofaciais.
Este estudo faz parte da tese de doutorado da pesquisadora Sacha Aubrey, com a participação dos pesquisadores Adriana Rolim, Antônio Vieira-Neto, Barry Sessle, Francisco Magalhães, Gerlânia Leite, Kaio Tavares, Marina Damasceno e Samara Benevides. A pesquisa revelou que a metformina atua rapidamente e de forma mais eficaz em mulheres quando aplicada em condições de dor crônica.
“Observamos que, embora a metformina reduz a dor em ambos os sexos, nas mulheres ela teve uma resposta significativamente mais rápida e eficaz em casos de dor crônica. Isso indica que os hormônios sexuais podem ter um papel crucial na forma como homens e mulheres respondem ao tratamento” – Sacha Aubrey, pesquisadora da NUBEX
A dor orofacial e o impacto da pesquisa
A dor orofacial engloba uma série de condições dolorosas que afetam as áreas da face, cabeça, mandíbula e pescoço, sendo mais comum em mulheres. Essa condição afeta mais de 25% da população mundial, e até o momento, os tratamentos disponíveis não consideravam diferenças biológicas entre homens e mulheres.
O estudo do NUBEX focou em explorar como a metformina atua sobre os canais TRPV1 e TRPA1 – responsáveis pela percepção da dor – e se essas ações poderiam ser mais eficazes em homens ou mulheres. Os resultados indicaram que, enquanto a metformina foi eficaz em reduzir a dor aguda em ambos os sexos, as mulheres se beneficiaram de forma significativa quando o medicamento foi aplicado em casos de dor crônica. Isso abre um novo campo para tratamentos mais personalizados.
Diferenciais da pesquisa
Um dos pontos centrais da pesquisa é a observação de que os hormônios sexuais podem influenciar a resposta ao tratamento com metformina. Isso explica por que as mulheres, que sofrem mais frequentemente com dores orofaciais, responderam melhor ao tratamento.
“Esses dados indicam que os hormônios sexuais podem influenciar o desenvolvimento de condições de dor no trigêmeo, o que abre a possibilidade de criar regimes terapêuticos personalizados, levando em consideração o sexo”, afirma a pesquisadora.
A metformina, ao atuar sobre os canais TRP, já conhecidos por serem alvos promissores no tratamento de dor, pode representar uma solução acessível e eficiente, especialmente em países onde os custos com tratamentos são um obstáculo.Métodos e tecnologias utilizadas
Os pesquisadores utilizaram uma série de testes pré-clínicos para avaliar a eficácia da metformina em modelos de dor aguda e crônica. Além disso, foi utilizado o docking molecular – um estudo computacional que simula a interação da metformina com os receptores TRPV1 e TRPA1 –, permitindo que a equipe analisasse como o medicamento age diretamente sobre esses receptores de dor.
Benefícios para a sociedade
A metformina é um medicamento amplamente disponível e de baixo custo, o que representa vantagem significativa. O reposicionamento desse fármaco para o tratamento da dor crônica poderia acelerar o processo de aprovação para esse novo uso, beneficiando pacientes de forma rápida e eficaz.
Além disso, o estudo abre caminho para que tratamentos personalizados sejam desenvolvidos, considerando as diferenças biológicas entre homens e mulheres. Isso não só aumentaria a eficácia do tratamento, como também poderia reduzir os efeitos colaterais, já que doses ajustadas para cada sexo seriam aplicadas.
Perspectivas e impactos
Sacha Aubrey destaca que o próximo passo é realizar ensaios clínicos em humanos para confirmar os resultados observados em laboratório. “Com base no estudo, podemos considerar a necessidade de ajustar dosagens e tempos de tratamento para maximizar a eficácia em diferentes grupos, principalmente entre homens e mulheres”, explica a pesquisadora.
Com a evolução dos estudos, a metformina pode se tornar uma ferramenta poderosa no combate à dor crônica, especialmente em mulheres, que são as mais afetadas por condições de dor orofacial. O reposicionamento desse medicamento oferece solução acessível e também a possibilidade de tratamentos mais personalizados e eficazes.
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