Pesquisa revela que o citral pode ser uma alternativa eficiente e com menos efeitos adversos em comparação aos tratamentos tradicionais para dores orofaciais
Estudos recentes têm evidenciado que alternativas naturais podem ser tão eficazes quanto medicamentos tradicionais no tratamento da dor, mas com menos efeitos colaterais. Nesse cenário, o citral, um composto presente em óleos essenciais, se destaca por seu potencial terapêutico.
Uma pesquisa realizada no Núcleo de Biologia Experimental da Universidade de Fortaleza (NUBEX), mantida pela Fundação Edson Queiroz, explora o impacto do citral no manejo da dor orofacial, apontando-o como uma alternativa promissora para dores agudas e crônicas.
O estudo, desenvolvido em colaboração com instituições como a Universidade de Toronto, demonstrou que o citral atua nos canais de Receptor de Potencial Transitório (TRP), modulando a percepção da dor em modelos de dor aguda e crônica.
A pesquisa teve início com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Sacha Aubrey, graduada em Farmácia pela Unifor e também pesquisadora do NUBEX, e foi ampliada em seu doutorado. O estudo contou com a colaboração dos cientistas Marina de Barros, Francisco Ernani Alves, Barry John Sessle, Breytiner Amaro, Francisco Lucas Alves Batista, Antônio Eufrásio e Adriana Rolim Campos.
“O citral demonstrou exercer um efeito antinociceptivo, ou seja, de redução da percepção da dor, por meio da modulação dos canais TRP. Isso o torna uma alternativa interessante para o manejo da dor orofacial, tanto em casos agudos e também crônicos” – Sacha Aubrey, pesquisadora do NUBEX e egressa do curso de Farmácia da Unifor
Metodologia utilizada
A equipe utilizou modelos experimentais com roedores para avaliar a eficácia do citral na redução de dores nas áreas da boca, pescoço e mandíbula, provocadas por substâncias como formalina e capsaicina, que ativam diferentes canais TRP. O citral foi administrado em doses variadas e comparado a grupos controle.
Testes de coordenação motora foram realizados para garantir que o composto não afetasse as funções motoras dos animais. Além disso, foi utilizado o estudo de docking molecular, técnica que simula a interação entre moléculas, para analisar a interação do citral com os canais TRP, sugerindo seu mecanismo de ação antinociceptivo.
Resultados promissores
Os resultados indicaram que o citral foi eficaz na redução da dor aguda e crônica, sem causar efeitos colaterais severos, como comprometimento motor, um problema comum com analgésicos tradicionais, como opioides. Sacha destaca que o citral modulou os canais TRP de forma segura, tornando-o uma alternativa inovadora no manejo da dor orofacial.
“A ausência de comprometimento motor foi um resultado animador, especialmente quando comparado a medicamentos tradicionais, como os opioides, que costumam impactar a coordenação motora dos pacientes”, acrescenta Sacha.
Perspectivas para o uso clínico
A ação do citral nos canais TRP pode revolucionar o tratamento da dor orofacial, principalmente em casos crônicos. Por ser uma substância natural e acessível, o citral tem o potencial de se tornar uma opção terapêutica eficaz, com menor risco de efeitos adversos. “O uso prolongado do citral, especialmente em doses baixas como as testadas, sugere menos efeitos colaterais, tornando-o uma opção para o tratamento de condições crônicas como a neuralgia do trigêmeo”, explica Sacha.
Além disso, sua administração oral torna o tratamento mais econômico e acessível, e a ausência de impacto na coordenação motora permite o uso prolongado sem comprometer a mobilidade dos pacientes.
Impacto na qualidade de vida
A neuralgia do trigêmeo é considerada uma das dores mais intensas que o ser humano pode experimentar, sendo descrita como lancinante e debilitante, afetando a face de forma repentina. Essa condição afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade facial, e pode ser desencadeada por estímulos simples, como mastigar, falar ou tocar o rosto.
A pesquisa pode melhorar significativamente a qualidade de vida de pacientes com dores crônicas, como a neuralgia do trigêmeo. O citral, ao ser utilizado por períodos prolongados sem efeitos colaterais severos, oferece uma alternativa segura para o manejo dessas dores debilitantes.
“Sabemos que a neuralgia do trigêmeo é uma das dores mais intensas que uma pessoa pode enfrentar. O uso de um composto natural como o citral, que pode aliviar a dor sem os efeitos colaterais comuns dos tratamentos tradicionais, oferece esperança para esses pacientes”, afirma a profissional. Além disso, o uso de técnicas como o docking molecular pode permitir o desenvolvimento de medicamentos que atuem diretamente nos receptores envolvidos na neuralgia, oferecendo soluções mais eficazes e menos invasivas.
Novos caminhos para a farmacologia
A pesquisa sobre o citral pode abrir portas para o desenvolvimento de novos medicamentos à base de compostos naturais, não só para dor orofacial, mas também para outras condições dolorosas. Sacha conclui que os canais TRP são alvos promissores para a criação de medicamentos acessíveis e eficazes no tratamento de dores crônicas, beneficiando uma maior parcela da população.