Pesquisadores da Universidade de Fortaleza modificam o composto com ácidos, criando uma substância mais solúvel e nutritivo, com amplas aplicações industriais
Pesquisadores da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino mantida pela Fundação Edson Queiroz, pertencentes do Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX), descobriram uma nova forma de transformar o amido da fruta-pão (Artocarpus altilis), em uma fruta comum em regiões tropicais, em um ingrediente com grande potencial para a indústria alimentícia e farmacêutica.
O estudo investigou como o amido pode ser modificado por meio de um processo chamado piroidextrinização, utilizando dois tipos de ácidos – o ácido clorídrico (HCl) e o ácido acético (vinagre) – para criar um produto mais solúvel e rico em fibras.
A piroidextrinização é um processo que envolve o aquecimento do amido na presença de um ácido, resultando em sua transformação em piroidextrinas, que são amidos modificados. Esse processo muda as propriedades do amido, tornando-o mais fácil de dissolver em água e alterando seu valor nutricional. Segundo a pesquisa, essa técnica pode abrir portas para novas aplicações comerciais, especialmente na fabricação de alimentos mais saudáveis e funcionais.

“O potencial dessa pesquisa vai muito além do que imaginávamos no início. Começamos investigando apenas as propriedades básicas do amido da fruta-pão, mas o que descobrimos foi uma forma de agregar valor não apenas ao alimento, mas também ao próprio cultivo dessa fruta que é tão comum, mas ainda pouco aproveitada na indústria – Erivan Oliveira, um dos pesquisadores do estudo
O estudo
Para realizar o experimento, os pesquisadores extraíram o amido da fruta-pão e o trataram com dois ácidos. O ácido clorídrico, um ácido mineral forte, produziu um amido altamente solúvel, de cor amarelada, enquanto o ácido acético, um ácido orgânico mais suave, criou uma piroidextrina mais branca e rica em fibras.
“Nosso trabalho com o ácido acético foi particularmente empolgante porque, além de modificar o amido, conseguimos aumentar o teor de fibras solúveis, o que é benéfico para a saúde,” afirma Oliveira. Ele explica que o produto final tem potencial para ser utilizado na indústria alimentícia em sopas, molhos e bebidas, agregando valor nutricional aos alimentos.
Potencial para a indústria
O uso de amidos modificados, como as piroidextrinas, tem se mostrado uma solução promissora para a produção de alimentos com menos calorias e mais fibras. Isso é especialmente relevante em um contexto onde o consumidor busca opções mais saudáveis e funcionais. Além disso, o processo de piroidextrinização também pode tornar o amido da fruta-pão uma alternativa mais econômica e sustentável em comparação com outras fontes de amido amplamente utilizadas, como o milho.
Erivan Oliveira destaca a importância econômica dessa inovação: “A fruta-pão é abundante em várias regiões tropicais, mas ainda é subutilizada. Quando conseguimos modificar o amido dessa fruta de maneira simples e eficaz, criamos uma oportunidade de mercado incrível para os produtores locais. É uma forma de gerar renda e desenvolver a economia de maneira sustentável, aproveitando o que já temos em abundância.”
Outro aspecto positivo destacado pelos pesquisadores foi a simplicidade do processo de modificação, que requer apenas o aquecimento e a adição de pequenas quantidades de ácido, o que pode facilitar sua aplicação em larga escala.
Aplicações futuras
Além do setor alimentício, as piroidextrinas também podem ser úteis em produtos farmacêuticos e na fabricação de papel, devido às suas propriedades de fácil dissolução e baixa viscosidade. No entanto, ainda são necessários mais estudos para entender completamente o impacto dessas piroidextrinas na digestão humana e na funcionalidade dos alimentos.
“Estamos apenas no começo. Ainda temos muito a aprender sobre como essas piroidextrinas se comportam no organismo humano e quais outros benefícios podemos descobrir ao longo do tempo”, diz Oliveira. Ele espera que suas descobertas possam contribuir para o desenvolvimento de novos produtos no mercado, especialmente em países tropicais onde a fruta-pão é abundante. “Nosso estudo abre caminho para o uso dessa matéria-prima em diversas indústrias, trazendo benefícios tanto para os produtores quanto para os consumidores”, conclui.
A pesquisa contou com o apoio da Universidade de Fortaleza, da Embrapa Agroindústria Tropical e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).