A pós-graduação stricto sensu no Brasil tem experimentado um crescimento notável nos últimos anos, com aumento significativo no número de matriculados. No entanto, ainda existem desafios para melhorar a formação de mestres e doutores no país, como a comparação com os números de países da OCDE. Luiz Antonio Pessan, atual diretor de Programas e Bolsas da CAPES, tem se dedicado a estratégias para enfrentar essas dificuldades e impulsionar a formação de profissionais qualificados. Em entrevista ao Portal Ciência, ele detalha as ações da CAPES para expandir as oportunidades de pós-graduação no Brasil e fomentar o desenvolvimento do país.


Portal Ciência: Para começarmos, quais as principais ações que a CAPES tem implementado para melhorar a distribuição das bolsas de pós-graduação no Brasil?

Luiz Antonio Pessan: Desde o início da nossa gestão, temos trabalhado constantemente para ajustar o modelo de distribuição de bolsas. Por exemplo, inserimos a “taxa de utilização”, um fator que visa redistribuir bolsas não utilizadas pelas instituições para outras que possam aproveitar melhor essas vagas. Isso está em andamento e deve trazer mais eficiência ao sistema. Além disso, ouvimos as demandas da comunidade acadêmica e estamos sempre revisando as estratégias, a fim de adaptar as bolsas de acordo com as necessidades reais do sistema de pós-graduação.

Portal Ciência: Como a CAPES tem lidado com as assimetrias na formação de mestres e doutores, especialmente nas regiões mais distantes dos grandes centros urbanos?

Luiz Antonio Pessan: A CAPES tem adotado uma série de programas para reduzir essas assimetrias. Por exemplo, estamos implementando o Programa de Redução de Assimetrias da Pós-Graduação (PRAPG), que envolve seminários e diálogos com instituições de todo o Brasil. Além disso, ações em áreas específicas como a região Semiárida Brasileira têm sido uma prioridade. Parcerias com fundações estaduais e o envolvimento da comunidade acadêmica local ajudam a construir soluções que atendam melhor às necessidades dessas regiões.

Portal Ciência: Qual é a importância da pós-graduação stricto sensu para o desenvolvimento do Brasil e como podemos avançar nesse cenário?

Luiz Antonio Pessan: A pós-graduação é essencial para qualificar profissionais que possam contribuir diretamente para o desenvolvimento econômico e social do país. Profissionais altamente qualificados têm um papel crucial na solução de problemas complexos, como no caso de pandemias ou outros desafios que podem surgir. Avançar significa tornar a pós-graduação mais acessível, aumentar o número de programas de qualidade e garantir que os alunos não apenas ingressem, mas também consigam concluir seus cursos. Para isso, as bolsas são uma ferramenta fundamental para garantir que os estudantes permaneçam e finalizem suas formações.

Portal Ciência: Como o Brasil se posiciona em relação a outros países no que diz respeito à formação de mestres e doutores?

Luiz Antonio Pessan: Em comparação com os países da OCDE, o Brasil está bem abaixo da média em termos de número de mestres e doutores por 100 mil habitantes. Nosso objetivo é aumentar esses números e reduzir as disparidades regionais. Isso está diretamente relacionado com o desenvolvimento do país, pois quanto mais profissionais qualificados tivermos, melhor será o atendimento às necessidades da população e maior será a contribuição para o progresso econômico e social.

Portal Ciência: Quais são as oportunidades e desafios para os egressos de pós-graduação no Brasil? Eles estão sendo absorvidos pelo mercado de trabalho?

Luiz Antonio Pessan: Embora a maioria dos mestres e doutores esteja atuando na academia, há uma necessidade crescente de que esses profissionais se integrem mais ao mercado produtivo, como nas indústrias. Isso é essencial, pois os doutores têm um grande potencial para contribuir em diversas áreas. Precisamos melhorar as oportunidades para que eles se mantenham no Brasil, mas também é importante fomentar uma maior interação entre a academia e o setor privado, para que o conhecimento gerado nas universidades seja mais aplicado no setor produtivo.

Portal Ciência: E qual a sua opinião sobre a atuação da Universidade de Fortaleza (Unifor) no contexto da pós-graduação no Brasil?

Luiz Antonio Pessan: A Unifor tem se destacado pela qualidade de seus programas de pós-graduação, mesmo sendo uma universidade privada. Durante nossa avaliação quadrienal, esperamos ver que, apesar dos desafios impostos pela pandemia, a universidade tem se mostrado resiliente e com grande potencial de contribuição para o cenário nacional. Acredito que a Unifor tem cumprido um papel importante na formação de mestres e doutores, e espero que continue expandindo suas capacidades e parcerias para fortalecer a pós-graduação no Brasil.


Sobre Luiz Antonio Pessan

Luiz Antonio Pessan é Professor Titular no Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, com graduação, mestrado e doutorado em Engenharia de Materiais e Química, e pós-doutorado pela University of Texas at Austin. Atualmente, é Diretor de Programas e Bolsas da CAPES e membro de conselhos como o CNPEM e o FNDCT. Com vasta experiência, foi coordenador da Área de Engenharias II da CAPES e presidente da Associação Brasileira de Polímeros (ABPol). Pessan tem forte atuação na área de Polímeros, orientando teses e dissertações, além de ser editor-chefe do periódico Materials Research.

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