A doação de órgãos é um tema de grande relevância social, especialmente no mês de setembro, marcado pela campanha Doe de Coração, iniciativa da Fundação Edson Queiroz (FEQ) que há mais de vinte anos busca aumentar a taxa de transplantes e salvar vidas no Ceará. A campanha conta com a coordenação da enfermeira assistencial da Unidade de Terapia Intensiva (Alta Complexidade em Transplante) e coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Mônica Studart, também professora doutora da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Nesta entrevista ao Portal Ciência, Mônica fala sobre o papel da enfermagem na área de doação e transplante de órgãos e tecidos, explica por que o Brasil vem batendo recordes no número de transplantes e comenta as ações da campanha Doe de Coração.
Portal Ciência: O que te motivou a estudar e atuar com transplantes no âmbito da enfermagem?
Mônica Studart: Minha motivação para atuar na área de transplantes surgiu pela complexidade e inovação envolvidas nesse contexto, pois representam um desafio que me fascina e me impulsiona a buscar continuamente o aprimoramento das práticas e técnicas. O impacto direto que podemos ter na vida dos pacientes e das suas famílias é inestimável, e a satisfação de ver alguém recuperar a saúde e a vitalidade é a maior recompensa para qualquer profissional de saúde.
Portal Ciência: Poderia explicar brevemente o papel da enfermagem na sensibilização e nos cuidados que envolvem a doação e recepção de órgãos?
Mônica Studart: Na enfermagem, temos um papel crucial em todas as fases do processo de doação e transplante. No aspecto da sensibilização, trabalhamos para educar a comunidade sobre a importância da doação de órgãos, ajudando a superar mitos e inseguranças. Em termos de cuidados, os enfermeiros estão envolvidos na avaliação e preparo dos pacientes para o transplante, no monitoramento pós-operatório e no suporte emocional e educacional para pacientes e famílias. Nossa atuação é fundamental para garantir que o processo seja seguro e que as pessoas recebam o melhor cuidado possível.
Portal Ciência: Além de ser enfermeira assistencial da Unidade Pós-Operatória de Alta Complexidade de Transplantes no HGF, você também é coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes. Essas duas funções se complementam de alguma maneira? E qual a importância do HGF nesse cenário local e nacional de transplantes?
Mônica Studart: Sem dúvida. Como enfermeira assistencial, estou diretamente envolvida no cuidado ao paciente, o que me dá uma visão prática dos desafios e necessidades dos transplantados. Já como coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes, tenho a oportunidade de formar novos profissionais e influenciar a qualidade do cuidado que será oferecido.
O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) é um centro de referência para transplantes complexos, oferecendo tratamentos avançados e suporte especializado. Nacionalmente, contribui para a formação de profissionais e para o avanço das práticas no campo dos transplantes, participando ativamente em redes de cooperação e pesquisa.
Portal Ciência: De janeiro a setembro de 2023, o Brasil realizou 6.766 transplantes de órgãos, o melhor resultado dos últimos dez anos. A que se deve esse crescimento? É só por conta de evoluções médicas e tecnológicas
Mônica Studart: Esse resultado vem de uma soma de fatores. Claro que a evolução médica e tecnológica, como melhorias cirúrgicas, na imunossupressão e nos cuidados pós-operatórios, tem um peso enorme. Mas a organização e a logística dos sistemas de doação e transplante também melhoraram — redes de captação mais ágeis, conscientização da população e fortalecimento das campanhas de doação. Além disso, a educação continuada e o trabalho conjunto das instituições de saúde têm sido essenciais nesse avanço.
Portal Ciência: Você é a nova coordenadora da campanha Doe de Coração. Como surgiu o convite e o que ele representa para você enquanto profissional da saúde e cidadã?
Mônica Studart: O convite partiu da direção do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Unifor. Foi uma honra e uma grande responsabilidade. Vejo isso como uma oportunidade de unir minha experiência prática e acadêmica ao objetivo de sensibilizar a comunidade sobre a doação de órgãos. Como profissional e cidadã, enxergo essa campanha como um compromisso com a saúde pública e a qualidade de vida das pessoas. É uma chance de salvar vidas e envolver a sociedade em um esforço coletivo para aumentar o número de doadores.
Portal Ciência: A Doe de Coração segue promovendo ações de conscientização, desta vez com a participação de estudantes dos cursos da área de saúde e das Ligas Acadêmicas de Medicina da Unifor. Como você avalia a inclusão dos alunos nesse processo e quais benefícios isso traz para eles e para a sociedade?
Mônica Studart: Incluir estudantes é fundamental. Eles são os futuros profissionais da saúde e, ao participarem, já vivenciam a importância da doação de órgãos e aprendem a se comunicar com a população sobre o tema. Na prática, isso faz com que estejam mais preparados para lidar com questões éticas e emocionais relacionadas à doação e transplante. Para a sociedade, essa participação amplia o alcance das campanhas de conscientização, criando uma cultura de doação que pode, efetivamente, salvar vidas.
Sobre a pesquisadora
Mônica Studart é enfermeira e professora doutora na Universidade de Fortaleza (Unifor). Graduou-se em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e especializou-se em Enfermagem Médico-Cirúrgica e em Nefrologia Multidisciplinar. Obteve seu mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolvendo pesquisas voltadas à prevenção de úlceras por pressão em pessoas com lesão medular. Atualmente, dedica-se ao ensino, à pesquisa e às práticas avançadas em saúde, contribuindo para o aprimoramento de tecnologias de cuidado e assistência de enfermagem especializada.