A pesquisa em Administração no Brasil enfrenta desafios importantes, que incluem acesso limitado a recursos de fomento, necessidade de ampliar redes de colaboração e de promover maior relevância social e internacionalização das produções científicas. Nesse contexto, a integração entre ensino, pesquisa e extensão aparece como estratégia essencial para valorizar o conhecimento e gerar impacto real na sociedade.

À frente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad), Emílio Arruda — pós-doutor em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP) e professor da Universidade da Amazônia (UNAMA) — busca fortalecer essa agenda. Recentemente, ele visitou a Universidade de Fortaleza como palestrante no I Seminário de Pesquisadores em Marketing do Ceará (SEPEMCE), evento realizado de 9 a 11 de dezembro, que reuniu pesquisadores, especialistas e estudantes em torno das tendências e inovações no campo do Marketing e da Administração.

O presidente da Anpad fala sobre estratégias para consolidar pesquisas relevantes na área de Administração, destaca a importância da colaboração entre regiões do país e reflete sobre o papel das tecnologias emergentes no avanço da área.


Portal Ciência: A Anpad desempenha um papel fundamental na integração dos programas de pós-graduação em Administração no Brasil. Como a Associação atua para fortalecer essa rede e aproximar a pós-graduação da graduação?

Emílio Arruda: A Anpad funciona como um elo entre diferentes instituições de ensino no Brasil e no exterior. Promovemos eventos e levamos a produção acadêmica brasileira para fóruns internacionais, como o Academy of Management, abrindo espaço para apresentar o que está sendo pesquisado no país. Isso aumenta a visibilidade e a diversidade do conhecimento em Administração.

Além disso, sempre reforçamos a relação entre pós-graduação e graduação. Uma pós-graduação forte impacta diretamente a formação dos estudantes de graduação, pois o professor que pesquisa leva conteúdo atualizado para a sala de aula. Assim, formamos tanto futuros pesquisadores quanto profissionais bem preparados para o mercado de trabalho.

Portal Ciência: Como é possível tornar a pesquisa em Administração mais relevante para a realidade nacional, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste?

Emílio Arruda: O principal desafio ainda é o acesso a recursos de fomento, especialmente fora dos grandes centros do Sudeste. Precisamos de mais apoio de instituições governamentais e privadas, possibilitando aquisição de equipamentos, realização de viagens acadêmicas e organização de eventos. Outro ponto importante é pensar globalmente, mas sem perder de vista as necessidades locais. Precisamos adaptar ideias de fora à nossa realidade e propor soluções que realmente contribuam para o desenvolvimento socioeconômico das regiões Norte e Nordeste.

Portal Ciência: Na Universidade de Fortaleza, a integração entre ensino, pesquisa e extensão é uma das marcas da formação. De que maneira esse modelo pode inspirar outras instituições a fortalecer o impacto social de suas pesquisas em Administração?

Emílio Arruda: O impacto social está cada vez mais em evidência na avaliação de cursos e projetos. A CAPES, por exemplo, exige que os pesquisadores mostrem quais são as implicações de suas descobertas para a sociedade. Modelos como o da Unifor, que integram ensino, pesquisa e extensão, permitem aplicar o conhecimento de forma prática e melhorar a vida das comunidades. Além disso, as instituições maiores podem compartilhar experiências com as menores, e todas podem aprender com universidades que têm maior presença internacional. Essa troca fortalece a qualidade dos projetos e o alcance de suas contribuições.

Portal Ciência: Quais estratégias podem aumentar a visibilidade nacional das pesquisas desenvolvidas no Nordeste, considerando sua relevância e particularidades?

Emílio Arruda: Valorizar temas conectados à identidade cultural, social e econômica do Nordeste é um caminho. Assuntos como turismo, desenvolvimento regional e produtos típicos ajudam a evidenciar as especificidades locais. Também é fundamental buscar parcerias com outras instituições nacionais e internacionais, investir em publicações de alto impacto e promover eventos que atraiam pesquisadores de fora, ampliando o diálogo e a colaboração.

Portal Ciência: Com os avanços tecnológicos, como você vê o papel das inovações na condução e na disseminação das pesquisas em Administração?

Emílio Arruda: A tecnologia tem transformado significativamente a forma como coletamos, analisamos e divulgamos dados. Ferramentas de inteligência artificial podem apontar tendências e lacunas nos estudos, agilizando e aprimorando as pesquisas. Em vez de temer a tecnologia, devemos enxergá-la como uma aliada capaz de aumentar o alcance e a profundidade dos trabalhos acadêmicos. A conectividade digital também facilita diálogos instantâneos com pesquisadores de diferentes partes do mundo, enriquecendo a qualidade metodológica e a diversidade de perspectivas.

Portal Ciência: O curso de Administração da Unifor está prestes a concluir o processo de acreditação internacional pela AACSB. Qual a importância dessa conquista do ponto de vista da Anpad?

Emílio Arruda: A acreditação pela AACSB representa um reconhecimento global de qualidade, algo que poucas instituições brasileiras possuem. Para a Unifor, isso significa posicionar o curso de Administração em um seleto grupo internacional, abrindo portas para colaborações mais amplas. Para a Anpad, quanto mais instituições brasileiras se destacam, mais o país consolida sua posição como polo de excelência em pesquisa e ensino em Administração. A AACSB promove ainda uma troca de experiências valiosa, melhorando continuamente o padrão das pesquisas e ampliando a internacionalização do ensino superior no Brasil.


Sobre o entrevistado

Emílio Arruda é Ph.D. em Marketing e Comércio Eletrônico pela Universidade de Bérgamo, na Itália, com experiência como pesquisador visitante no Research Institute for Telecommunications and Information Marketing (Universidade de Rhode Island, EUA). Atualmente, exerce a presidência da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad), tendo atuado previamente como diretor científico e coordenador da Divisão de Marketing da mesma instituição.

Professor associado dos cursos de pós-graduação em Administração da Universidade da Amazônia (UNAMA), já publicou artigos em periódicos de referência nas áreas de Marketing de Tecnologia e Gestão da Informação. Também foi professor nos programas de mestrado e doutorado de diversas universidades brasileiras. Sua trajetória acadêmica inclui pesquisas sobre valores hedônicos e utilitários do consumidor em telecomunicações móveis e colaboração ativa em eventos científicos e projetos de internacionalização.

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