Nos últimos anos, a ciência tem se dedicado intensamente ao estudo do envelhecimento celular e das formas de promover uma longevidade mais saudável. Entre os pesquisadores que se destacam nessa área está Allancer Nunes, pesquisador da Universidade de Minnesota, no Masonic Institute on the Biology of Aging and Metabolism, onde investiga estratégias para combater a senescência celular e os impactos desse processo na saúde. O Portal Ciência conversou com Allancer sobre sua trajetória acadêmica e os avanços nas terapias senolíticas.
Portal Ciência: O que despertou seu interesse pelo estudo do envelhecimento celular e metabolismo? Como foi sua trajetória até se tornar um pesquisador na área?
Allancer Nunes: O que despertou meu interesse pelo estudo do envelhecimento celular foi o fato de que a população mundial está vivendo mais. O número de pessoas com mais de 65 anos está aumentando em todos os países, fazendo com que pesquisas nessa área ganhem uma proporção e investimentos muito maiores do que há alguns anos. Minha trajetória profissional começou com a graduação em Fisioterapia. Logo depois, ingressei em um programa de mestrado, onde me apaixonei pela pesquisa científica e decidi seguir para o doutorado. Durante meu doutorado em Ciências Fisiológicas, comecei a trabalhar mais intensamente com biologia celular e molecular, mas foi no pós-doutorado, na University of Central Florida e na University of Minnesota, que me aprofundei no estudo do envelhecimento celular e decidi fazer desse tema minha principal linha de pesquisa.
Portal Ciência: Suas pesquisas envolvem a senescência celular e terapias senolíticas. Poderia explicar, de forma simples, o que são essas terapias e como elas podem contribuir para um envelhecimento mais saudável?
Allancer Nunes: Hoje sabemos que muitas doenças podem estar relacionadas à senescência celular, como hipertensão arterial, osteoporose e doenças neurodegenerativas. No meu laboratório, identificamos e testamos compostos, naturais ou sintéticos, com capacidade senoterapêutica. O que isso significa? Esses compostos, em uma concentração e tempo de tratamento ideais, eliminam as células senescentes, reduzindo o estresse e o processo inflamatório causados por essas células e, consequentemente, melhorando a função fisiológica de diversos órgãos.
Portal Ciência: Durante sua passagem pela Unifor, você teve a oportunidade de compartilhar seus conhecimentos com alunos e pesquisadores em diversas atividades. Como avalia a importância dessas iniciativas para a formação acadêmica e para o avanço das pesquisas na área?
Allancer Nunes: A iniciativa da Unifor de trazer cientistas de outras instituições e até de outros países é extremamente enriquecedora para ambas as partes, tanto para a universidade quanto para o pesquisador. Para mim, foi muito interessante ver o interesse e o empenho dos alunos e professores da Unifor em trazer para seus laboratórios um pouco mais sobre o estudo da senescência celular. Essas interações podem ajudá-los a desenvolver novos projetos na área ou até mesmo a responder questões que surgiram ao longo do desenvolvimento de suas pesquisas.
Portal Ciência: Nos últimos anos, muito tem se falado sobre longevidade e qualidade de vida. A ciência está próxima de encontrar caminhos eficazes para retardar os efeitos do envelhecimento? Quais avanços você enxerga para o futuro nessa área?
Allancer Nunes: De certa forma, já estamos vivenciando o futuro. Inúmeros testes clínicos estão em andamento nos Estados Unidos e em outros países. A cada dia, novos estudos surgem, trazendo novas opções e levantando novas questões a serem respondidas. O futuro é muito promissor. Acredito que, com investimento, dedicação e colaboração entre cientistas, poderemos encontrar soluções eficazes para manter a população idosa cada vez mais saudável e com ótima qualidade de vida.
Portal Ciência: Além das pesquisas laboratoriais, você participa de eventos científicos e associações internacionais voltadas ao estudo do envelhecimento. Como a colaboração entre pesquisadores de diferentes países — incluindo sua parceria com a Unifor — tem impulsionado descobertas nesse campo? Quais perspectivas essa cooperação abre para o futuro da pesquisa?
Allancer Nunes: A ciência, hoje em dia, é globalizada. Ninguém trabalha sozinho. A colaboração entre grupos de pesquisa, tanto locais quanto internacionais, é essencial para a troca de conhecimento e o aprimoramento dos estudos. Muitas vezes, nos deparamos com desafios em nossos projetos que podem ser solucionados com o apoio de um colaborador em outro país, em outra instituição ou até mesmo no laboratório ao lado. Além disso, ideias inovadoras e novas parcerias podem surgir a partir de uma apresentação de 15 minutos em um congresso. Esse intercâmbio de conhecimento é fundamental para o avanço das pesquisas.
Portal Ciência: A Universidade de Fortaleza se destaca como um dos principais polos de pesquisa em biologia do Brasil, contando com infraestrutura avançada e espaços como o Núcleo de Biologia Experimental. Durante sua experiência na Unifor, como você avalia os laboratórios e os recursos disponíveis para pesquisas na área de biologia celular?
Allancer Nunes: Na minha opinião, a Unifor está fazendo um excelente trabalho. A estrutura dos laboratórios e a qualidade dos equipamentos permitem o desenvolvimento de pesquisas de alto impacto. Um ponto que me chamou atenção foi o suporte oferecido pela Unifor aos seus pesquisadores, algo que não é comum em universidades privadas no Brasil. Esse apoio incentiva os cientistas a continuarem suas pesquisas e a expandirem seus laboratórios. Como consequência, isso também reflete positivamente na qualidade dos alunos de pós-graduação formados pela instituição.
Sobre o pesquisador
Allancer Nunes é pós-doutorando na University of Minnesota, no Institute on the Biology of Aging and Metabolism, com experiência internacional em pesquisa sobre envelhecimento celular. Possui pós-doutorado na University of Central Florida, na Burnett School of Biomedical Sciences, em Orlando, EUA, e doutorado sanduíche na École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça.
É Doutor em Ciências Biológicas, com ênfase em Fisiologia e Farmacologia, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e Mestre em Biologia, com concentração em Biologia Celular e Molecular, também pela UFG. Iniciou sua trajetória acadêmica com graduação em Fisioterapia pela Universidade Paulista (UNIP).