MarIA é uma assistente conversacional inteligente para fomentar autocuidado em portadores de doenças crônicas e visa aprimorar a adesão ao autocuidado em pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Utilizando tecnologias de inteligência artificial, MarIA oferece suporte contínuo e personalizado, facilitando a gestão eficaz das condições de saúde e melhorando a qualidade de vida dos usuários. O Portal Ciência conversou com o pesquisador Vasco Furtado para entender os avanços e implicações dessa pesquisa.


Portal Ciência: Poderia nos explicar qual é a proposta principal da sua pesquisa com o chatbot MarIA e desde quando ela está sendo desenvolvida?

Vasco Furtado: Sim! O nome completo da pesquisa é “MarIA – Uma Assistente Conversacional Inteligente para Fomentar Autocuidado em Portadores de Doenças Crônicas.” A proposta principal é desenvolver uma assistente conversacional baseada em inteligência artificial que auxilie pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, a manterem-se engajados no autocuidado. Iniciamos essa pesquisa em novembro de 2023, quando começamos a primeira etapa dos experimentos com usuários. Desde então, temos trabalhado no desenvolvimento e implementação das funcionalidades do MarIA, além de conduzir experimentos empíricos para avaliar sua eficácia.

Portal Ciência: Como surgiu a ideia do chatbot MarIA, e qual foi a inspiração para seu desenvolvimento?

Vasco Furtado: A ideia do MarIA surgiu da necessidade de criar uma fonte fácil e acessível de informação confiável, personalizada e empática para portadores de doenças crônicas. Queríamos desenvolver uma assistente pessoal que pudesse engajar os usuários nas interações e na adesão ao autocuidado, utilizando tecnologias avançadas como modelos de linguagem GPT-4.0 e sistemas multiagent. A inspiração veio da observação de que muitos pacientes enfrentam dificuldades em manter hábitos saudáveis e aderir aos tratamentos prescritos, e acreditamos que uma ferramenta como o MarIA pode fazer uma diferença significativa nesse processo.

Portal Ciência: Quais foram as principais motivações para focar em doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, com essa ferramenta?

Vasco Furtado: As doenças crônicas como diabetes e hipertensão exigem monitoramento contínuo e adesão rigorosa ao autocuidado. Nossa motivação principal foi aumentar essa adesão, proporcionando aos pacientes uma ferramenta que ofereça informações seguras, personalizadas e suporte contínuo, facilitando a gestão eficaz de suas condições de saúde. Além disso, reconhecemos que a falta de engajamento pode levar a complicações graves, e queremos prevenir isso através de intervenções mais eficientes e acessíveis.

Portal Ciência: Quais métodos ou técnicas de análise vocês estão usando para monitorar os sentimentos e comportamentos dos usuários?

Vasco Furtado: Utilizamos uma combinação de tecnologias e técnicas, incluindo modelos de linguagem GPT-4.0, Langchain, speech to text e sistemas multiagent. Monitoramos dados como prontuários, exames e interações via WhatsApp para analisar o engajamento dos usuários e detectar riscos precocemente. Além disso, implementamos análise de engajamento e latência de comunicação para entender melhor os comportamentos dos usuários e adaptar as interações de acordo com as necessidades individuais.

Portal Ciência: Como funciona o processo de coleta e tratamento de dados de saúde com o chatbot?

Vasco Furtado: O processo envolve a coleta contínua e sistemática de dados sobre o contexto do paciente, incluindo informações do prontuário e exames. Esses dados são integrados ao sistema do MarIA para personalizar as interações, oferecendo informações corretas e seguras que auxiliam no autocuidado. Utilizamos também monitoramento via WhatsApp para facilitar a comunicação e o acompanhamento em tempo real. Além disso, MarIA pode marcar lembretes, agendar consultas e interpretar imagens enviadas pelos usuários, sempre respeitando as restrições de segurança para garantir que as recomendações sejam apropriadas e seguras.

Portal Ciência: Já é possível perceber algum impacto positivo entre os usuários que interagem com o chatbot? Se sim, poderia compartilhar alguns exemplos?

Vasco Furtado: Sim, nossos experimentos iniciais mostram resultados promissores. Na Etapa1, usuários que receberam interações personalizadas tiveram uma taxa de conversão de 37.03%, comparada a 28.78% em campanhas educativas gerais. Além disso, a latência de comunicação foi menor em interações personalizadas, indicando um maior engajamento. Esses resultados sugerem que o MarIA está efetivamente engajando os usuários no autocuidado, promovendo uma maior adesão às práticas de saúde recomendadas.

Portal Ciência: Como você acredita que essa ferramenta pode contribuir para a sociedade, especialmente para a qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas?

Vasco Furtado: Acreditamos que o MarIA pode melhorar significativamente a qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas ao aumentar a adesão ao autocuidado e fornecer suporte contínuo. Além disso, a detecção precoce de situações críticas pode prevenir complicações graves, beneficiando tanto os pacientes quanto os sistemas de saúde. A personalização das interações também garante que os tratamentos sejam mais eficazes e adequados às necessidades individuais de cada usuário, promovendo uma gestão de saúde mais proativa e eficiente.


Sobre o Pesquisador:

Vasco Furtado é Coordenador do Laboratório de Ciências dos Dados e Inteligência Artificial na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde atua há décadas. Doutorado pela Universidade de Aix-Marseille III, na França, e pós-doutorado em Stanford, EUA, Furtado é autor de mais de 150 artigos científicos focados em Inteligência Artificial, incluindo simulação multiagente, web semântica, aprendizagem automática e mineração de dados. Suas pesquisas impactam áreas como Segurança Pública, Justiça e Cidades Inteligentes.

Além de sua atuação acadêmica, Vasco possui ampla experiência no setor público, ocupando cargos de liderança em instituições de tecnologia e inovação no Estado do Ceará. Também é cientista-chefe no Tribunal de Justiça e no Ministério Público do Ceará.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *