Soluções recuperam mobilidade do paciente, além de ampliar sua autonomia e fortalecer a inclusão social

Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo necessitam de algum tipo de reabilitação, enfrentando limitações funcionais congênitas ou adquiridas devido a acidentes vasculares cerebrais, enfermidades degenerativas ou acidentes graves. Esses desafios, aliados ao aumento da expectativa de vida, da violência urbana e aos impactos das guerras, reforçam a importância da reabilitação como componente central para garantir a inclusão social e a qualidade de vida, segundo a Professora Linamara Rizzo Battistella, Titular de Fisiatria da Faculdade de Medicina da USP.

No Instituto de Medicina Física e Reabilitação, que integra a Rede de Reabilitação Lucy Montoro – iniciativa idealizada e presidida pela professora – os recentes avanços em pesquisa e desenvolvimento estão inaugurando uma nova era na reabilitação.

“A tecnologia desempenha um papel fundamental nesse processo, com inovações como exoesqueletos, realidade aumentada e inteligência artificial sendo incorporadas aos tratamentos”, afirma Battistella. Essas soluções não apenas facilitam a recuperação da mobilidade, mas também promovem melhorias na condição funcional dos pacientes, ampliando sua autonomia e fortalecendo sua inclusão social.

Tecnologias transformadoras e impacto econômico

A introdução de novas tecnologias visa, acima de tudo, melhorar a qualidade de vida das pessoas e mitigar os impactos sociais e econômicos da dependência. No Brasil, cerca de 12% do PIB está vinculado à economia informal de cuidados, composta por familiares que frequentemente precisam abandonar seus empregos para assistir pessoas com limitações funcionais. Nesse contexto, os exoesqueletos destacam-se como um dos avanços mais transformadores.

Essas estruturas robóticas vestíveis combinam sensores, motores, inteligência artificial e novos materiais leves e resistentes, aplicados por meio da engenharia biomédica para auxiliar na mobilidade e reabilitação. “Os primeiros protótipos utilizados no Brasil vieram de países como França, Coreia do Sul e China, que possuem equipamentos avançados nesse campo. A importação desses equipamentos foi essencial para entender o que já havia sido feito e buscar o estado da arte no desenvolvimento de um produto brasileiro”, explica Battistella.

Os modelos desenvolvidos nos laboratórios brasileiros são mais leves, ajustáveis e acessíveis, utilizando ligas metálicas e compostos que reduzem o peso sem comprometer a resistência. Além disso, possuem um sistema de registro eletrônico que armazena as configurações personalizadas de cada paciente, facilitando seu uso e tornando a adaptação mais eficiente.

“Os protótipos nacionais, desenvolvidos em colaboração com a Escola Politécnica e a Escola de Engenharia de São Carlos da USP, já estão em fase de testes clínicos, com resultados iniciais promissores”, acrescenta.

Inovações em realidade aumentada

Outro avanço significativo é o uso da realidade aumentada e sensores para monitorar remotamente o progresso dos pacientes. “A realidade aumentada permite criar cenários virtuais nos quais o paciente interage durante os exercícios, como simular atravessar ruas ou alcançar objetos. Isso ajuda a desenvolver habilidades motoras específicas e a ganhar confiança”, destaca Battistella. Essas ferramentas tornam o processo de reabilitação mais envolvente e divertido, aumentando a adesão e o comprometimento com os exercícios.

A conectividade também desempenha um papel crucial, permitindo que os dispositivos estejam integrados a plataformas de acompanhamento remoto. “Estamos testando dispositivos de conectividade para exercícios em casa, como esteiras adaptadas e equipamentos de fortalecimento muscular com sensores integrados. Esses sistemas registram dados em tempo real, oferecendo relatórios detalhados aos profissionais de saúde que acompanham o caso”, explica a professora. A integração da inteligência artificial a esses dispositivos sugere ajustes e novos exercícios, facilitando a personalização das terapias.

Perspectivas futuras e colaborações internacionais

No cenário internacional, neurocientistas como Grégoire Courtine, do Centro NeuroRestore na Suíça, lideram pesquisas com implantes de microchips na coluna para restaurar funções motoras. “O desenvolvimento de tecnologias que combinam estimulação elétrica e robótica aponta para um futuro em que as lesões medulares poderão ser tratadas com muito mais eficácia, devolvendo autonomia e funcionalidade aos pacientes”, comenta Battistella.

A introdução de exoesqueletos e dispositivos vestíveis para uso doméstico promete transformar o tratamento, promovendo maior autonomia e funcionalidade. “Assim como a bicicleta ergométrica, que era exclusividade de centros de reabilitação no passado e hoje está em muitas residências, esperamos que os exoesqueletos se tornem acessíveis e parte do cotidiano de muitas pessoas”, prevê.

Além disso, iniciativas como os “Walking Clubs”, onde pacientes podem treinar e socializar em um ambiente descontraído, reforçam a ideia de que a reabilitação vai além do físico, englobando aspectos sociais e emocionais. “A pesquisa brasileira tem um papel central nesse processo. Estamos na vanguarda do desenvolvimento de dispositivos acessíveis, com potencial para reduzir custos e ampliar o acesso, colocando o Brasil como referência em reabilitação de alta complexidade”, conclui Battistella.

Futuro promissor

O futuro da reabilitação, afirma a professora, é uma construção coletiva onde ciência, tecnologia e cuidado humano se encontram para transformar vidas. “Com o envelhecimento da população e o aumento de condições que afetam a funcionalidade, é essencial que governos e instituições de saúde invistam em tecnologias que garantam maior eficácia e acessibilidade”, finaliza.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *