Terapias alternativas, como as baseadas em biomoléculas vegetais, surgem como opções promissoras para pacientes em busca de tratamentos com menos efeitos colaterais e maior sustentabilidade (Foto: Getty Images)

O estudo também tem como proposta  promover a sustentabilidade e fortalecer a indústria farmacêutica nacional

Com uma biodiversidade única, o Brasil abriga mais de 46.000 espécies vegetais, muitas das quais possuem propriedades medicinais ainda pouco exploradas. Essa vastidão de recursos naturais oferece uma oportunidade valiosa para o desenvolvimento de novos medicamentos. Foi com esse potencial em mente que pesquisadores do Núcleo Experimental de Biologia (NUBEX) da Universidade de Fortaleza, da instituição de ensino mantida pela Fundação Edson Queiroz, iniciaram estudo acerca da temática. 

O projeto, intitulado “Formulações Farmacêuticas Inovadoras Baseadas em Biomoléculas Extraídas de Plantas”, busca utilizar macromoléculas biologicamente ativas extraídas da flora brasileira, como lectinas e polissacarídeos, para criar novos tratamentos de doenças inflamatórias, no manejo da dor e em terapias oncológicas.

A pesquisa, na qual Ana Cristina Moreira, pesquisadora e diretora do Nubex, além de docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM), participou, foca no desenvolvimento de medicamentos a partir de recursos naturais da flora brasileira, com o objetivo de criar soluções mais eficazes e acessíveis. A iniciativa tem como proposta a criação de medicamentos inovadores, com custos reduzidos e menos efeitos colaterais, além de promover o uso sustentável da biodiversidade brasileira.

O estudo também representa uma estratégia econômica importante para o Brasil. Ao valorizar as propriedades terapêuticas das plantas nativas, o estudo não apenas traz avanços científicos, mas também promove o desenvolvimento econômico e a bioprospecção, contribuindo para o fortalecimento da indústria farmacêutica nacional com base em recursos naturais brasileiros – Ana Cristina Moreira, diretora do NUBEX e docente do PPGCM da Unifor 

O poder das biomoléculas vegetais

A pesquisa do NUBEX concentra-se na extração de macromoléculas, como lectinas e polissacarídeos, que possuem propriedades terapêuticas amplamente reconhecidas. 

Lectinas, por exemplo, são proteínas que se ligam a carboidratos específicos e podem atuar como agentes moduladores do sistema imunológico, além de serem utilizadas no direcionamento de fármacos.

Já os polissacarídeos, como galactomananas e galactoxiloglucanas, são conhecidos pelas propriedades anti-inflamatórias e pela capacidade de formar estruturas para a liberação controlada de medicamentos.

“Escolhemos essas macromoléculas devido ao seu extraordinário potencial terapêutico. Nossas investigações revelaram que essas moléculas possuem atividades importantes, como ação anti-inflamatória, analgésica, cicatrizante e até antitumoral.”

A equipe de pesquisa, composta por Angelo Roncalli,  Adriana Rolim, Felipe Sousa, Louhanna Teixeira, Leonardo Tondello e  Matheus Sousa, colabora em diferentes frentes de estudo para garantir que essas moléculas possam ser aplicadas de maneira eficaz em novas formulações farmacêuticas.

Métodos utilizados

A equipe utiliza métodos como cromatografia, eletroforese e espectrometria de massas para garantir o isolamento e a caracterização precisos das biomoléculas extraídas das plantas.

Além disso, tecnologias avançadas como a engenharia genética são aplicadas para produzir lectinas recombinantes, ampliando as possibilidades terapêuticas dessas moléculas. “Um dos grandes desafios é obter biomoléculas puras em quantidades suficientes para os estudos pré-clínicos e clínicos”, aponta a pesquisadora. “Também precisamos garantir que essas moléculas mantenham sua estabilidade e atividade biológica durante todo o processo de produção e formulação.”

Outro ponto fundamental da pesquisa é a biodisponibilidade, ou seja, a capacidade dessas moléculas serem efetivamente absorvidas pelo corpo humano quando administradas como medicamentos. Para isso, a equipe está desenvolvendo sistemas de liberação controlada, como nanopartículas e lipossomas, que ajudam a otimizar a entrega e a eficácia dos princípios ativos.

Aplicações terapêuticas potenciais

As biomoléculas estudadas pelo NUBEX apresentam uma gama diversificada de aplicações terapêuticas. A pesquisa está focada no desenvolvimento de medicamentos que possam tratar diversas condições, como:

  • Doenças inflamatórias crônicas: Explorando as propriedades anti-inflamatórias das lectinas e polissacarídeos, o estudo busca alternativas mais naturais e menos agressivas do que os tratamentos convencionais;
  • Processos de cicatrização: As formulações desenvolvidas têm mostrado grande potencial tanto para feridas agudas quanto crônicas, incluindo lesões por pressão e pé diabético;
  • Manejo da dor: As propriedades analgésicas dessas biomoléculas são promissoras para o desenvolvimento de novas abordagens no tratamento de condições dolorosas, tanto agudas quanto crônicas;
  • Oncologia: O estudo investiga o uso de biomoléculas vegetais no tratamento de diferentes tipos de câncer, com foco em suas propriedades antitumorais.

Impacto para a sociedade

Além das inovações no campo da saúde, a pesquisa pode trazer benefícios econômicos e ambientais significativos. Ao aproveitar de maneira sustentável a biodiversidade brasileira, o projeto tem o potencial de fortalecer a indústria farmacêutica nacional e reduzir a dependência de tecnologias importadas.

“Estamos criando uma plataforma versátil que pode ser adaptada para diferentes aplicações terapêuticas, desde medicamentos orais e tópicos até curativos inteligentes. Nossa meta é traduzir esses avanços científicos em benefícios reais 

Inovação que transcende a medicina e perspectivas 

A pesquisa não se limita apenas à revolução no tratamento de doenças; ela também estabelece um novo paradigma de desenvolvimento científico, econômico e ambiental. Ao unir natureza e ciência, o projeto oferece soluções inovadoras para os desafios globais de saúde, colocando o Brasil em uma posição estratégica no cenário da biotecnologia mundial.

Ao promover uma abordagem sustentável e inovadora, o projeto pode impactar diretamente o desenvolvimento econômico e social do Brasil. “Nosso trabalho mostra como a biodiversidade brasileira pode ser uma fonte de inovação farmacêutica, com benefícios que vão desde a criação de empregos até a produção de medicamentos de alta tecnologia”, conclui. 

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