A pesquisa intitulada “Intensificação do Vício – O Impacto da Inteligência Artificial em Cassinos Online e as Implicações para a Saúde Pública no Brasil” é um estudo pioneiro desenvolvido pelos pesquisadores Bruno Lessa e Jorge Luiz. O Portal Ciência teve a oportunidade de conversar com ambos para entender os avanços e as implicações dessa pesquisa para a sociedade brasileira.
Portal Ciência: Vocês poderiam explicar sobre o que se trata a pesquisa sobre o impacto da inteligência artificial?
Bruno Lessa: A proposta principal é investigar como a inteligência artificial está sendo utilizada nos cassinos online para intensificar o vício nos jogadores. Iniciamos essa pesquisa em 2023, com o objetivo de entender se agentes externos baseados em IA estão ajustando padrões de aleatoriedade para maximizar os lucros das casas de apostas, potencialmente causando prejuízos graves aos usuários.
Jorge Luiz: Complementando o que o Bruno disse, nossa pesquisa também pretende verificar se existem técnicas avançadas de aprendizado por reforço, como as Deep Q-Networks, sendo implementadas nos algoritmos dos cassinos online. Queremos entender como essas técnicas podem otimizar o comportamento da máquina para promover um ambiente mais vicioso, impactando diretamente a saúde pública no Brasil.
Portal Ciência: Como surgiu a ideia de investigar o impacto da inteligência artificial em cassinos online e a relação com a intensificação do vício no Brasil?
Bruno Lessa: A ideia surgiu da observação de que os cassinos online estão cada vez mais sofisticados em suas estratégias para engajar os jogadores. Notamos que a inteligência artificial poderia estar sendo usada para personalizar a experiência do usuário de maneira que intensificasse o vício, similar a um “dado viciado” que ajusta a aleatoriedade para favorecer a casa.
Jorge Luiz: Além disso, percebemos que, apesar dos benefícios da IA em diversas áreas, seu uso nos cassinos online levanta sérias questões éticas e de saúde pública. A falta de regulação adequada e o uso potencial de IA para manipular comportamentos dos jogadores motivaram-nos a investigar mais a fundo esse fenômeno.
Portal Ciência: Quais foram as principais motivações de vocês para focar em cassinos online com o uso de inteligência artificial nessa pesquisa?
Bruno Lessa: Nossa principal motivação é entender como a IA pode estar sendo usada de forma mal-intencionada para intensificar o vício nos cassinos online. Queremos identificar se há agentes externos que ajustam padrões de aleatoriedade para maximizar os lucros das casas de apostas, resultando em impactos negativos na saúde mental e financeira dos jogadores.
Jorge Luiz: Além disso, reconhecemos que a falta de engajamento pode levar a complicações graves, e queremos prevenir isso através de intervenções mais eficientes e acessíveis. Ao focar nos cassinos online, buscamos áreas onde a IA pode ter um impacto mais direto e potencialmente prejudicial na população.
Portal Ciência: Quais métodos ou técnicas de análise vocês estão usando para monitorar os sentimentos e comportamentos dos usuários?
Bruno Lessa: Utilizamos uma combinação de tecnologias e técnicas, incluindo modelos de linguagem avançados e sistemas multiagent. Monitoramos dados como prontuários, exames e interações via plataformas online para analisar o engajamento dos usuários e detectar riscos precocemente. Implementamos também análise de engajamento e latência de comunicação para entender melhor os comportamentos dos usuários e adaptar as interações de acordo com as necessidades individuais.
Jorge Luiz: Além das técnicas mencionadas pelo Bruno, estamos realizando simulações reais com “robôs apostadores” para observar como os cassinos online reagem a comportamentos automatizados similares aos humanos. Pretendemos verificar se há algum agente externo, baseado em IA, capaz de produzir o efeito de engajamento dos usuários na plataforma e, consequentemente, gerar prejuízos graves a quem utiliza. Efetivamente, um jogo de apostas deve conter suas porções estatisticamente prováveis, como um “dado equilibrado”. Em um ambiente injusto, como um “dado viciado”, um agente externo pode ajustar o padrão de aleatoriedade de forma inteligente para maximizar os lucros da casa de apostas.
Portal Ciência: Como funciona o processo de coleta e tratamento de dados na pesquisa?
Bruno Lessa: O processo envolve a coleta contínua e sistemática de dados sobre o contexto do jogador, incluindo informações sobre seus hábitos de jogo, gastos e horários de utilização das plataformas. Esses dados são integrados aos nossos sistemas de análise para identificar padrões que possam indicar a presença de agentes de IA manipulando a experiência do usuário. Utilizamos também monitoramento via plataformas de comunicação para facilitar a coleta de dados em tempo real.
Jorge Luiz: Além disso, realizamos análises de dados para identificar correlações entre o uso de IA nos cassinos e o aumento do vício em jogos. Utilizamos técnicas de mineração de dados e aprendizagem automática para processar grandes volumes de informações e extrair insights relevantes sobre o comportamento dos jogadores e a influência da IA. No momento, ainda não temos dados para comprovar se há, de fato, uso de IA nas plataformas online para otimizar os lucros nos cassinos. Especulamos que podemos avaliar o impacto, através de simulações, de possíveis agentes externos que criem o efeito de “dado viciado” durante a utilização da plataforma para otimização dos lucros da casa.
Portal Ciência: Já é possível perceber algum impacto positivo ou negativo entre os usuários que interagem com as plataformas estudadas? Se sim, poderia compartilhar alguns exemplos?
Bruno Lessa: Sim, nossos experimentos iniciais mostram resultados preocupantes. Observamos que plataformas que utilizam IA para personalizar a experiência do usuário tendem a ter uma taxa de conversão mais alta, indicando um maior engajamento e potencial para intensificação do vício. Por exemplo, jogadores dessas plataformas demonstraram comportamentos mais compulsivos e um aumento significativo no tempo e dinheiro investidos nos jogos.
Jorge Luiz: Além disso, através das simulações com “robôs apostadores,” identificamos que algumas plataformas ajustam automaticamente os padrões de aleatoriedade para favorecer a casa, resultando em um ciclo de jogo mais vicioso. Esses agentes de IA conseguem prever e manipular os momentos de maior vulnerabilidade dos jogadores, aumentando a probabilidade de apostas repetidas e grandes perdas financeiras. Estamos ainda desenvolvendo simulações para confirmar se plataformas estão utilizando ferramentas de IA de forma a intensificar a experiência do usuário e promover o vício.
Portal Ciência: Como vocês acreditam que essa pesquisa pode contribuir para a sociedade, especialmente para a saúde pública no Brasil?
Bruno Lessa: Acreditamos que nossa pesquisa pode fornecer dados essenciais para a formulação de políticas públicas mais eficazes na regulação dos cassinos online. Identificando como a IA está sendo usada para intensificar o vício, podemos propor medidas que protejam os jogadores e minimizem os impactos negativos na saúde mental e financeira da população.
Jorge Luiz: Além disso, nossa pesquisa visa conscientizar a sociedade sobre os riscos associados ao uso desregulado da inteligência artificial nos jogos de azar. Esperamos influenciar a criação de regulamentações que garantam práticas éticas e responsáveis por parte das plataformas de cassinos online, promovendo um ambiente de jogo mais seguro e transparente. Também pretendemos verificar, através de simulações, se há possibilidade de mitigar o impacto da IA na promoção do vício, identificando grupos de pessoas mais afetados e propondo estratégias de intervenção.
Sobre os pesquisadores:
Bruno Lessa é Professor Assistente no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Fortaleza (Unifor). Possui doutorado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestrado em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Com uma formação sólida em História, Bruno iniciou sua carreira docente em 2003, coordenando programas educacionais e atuando na Educação de Jovens e Adultos em diversas localidades.
Jorge Luiz possui graduação em Física pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrado em Física da Matéria Condensada e dos Materiais pela UFC e doutorado em Física da Matéria Condensada e dos Materiais. Com amplo conhecimento nas áreas de Física Geral e Matemática Aplicada, Jorge se dedica a pesquisas em Soft Matter, Biofísica, Física Estatística e Machine Learning realizadas tanto no Brasil quanto no exterior. Suas habilidades avançadas em cálculos matemáticos e linguagens de programação, como C#, Fortran, Python, R, CUDA-C e MPI, são complementadas por sua experiência em publicações internacionais, coordenação de alunos de iniciação científica e docência em diversos níveis de ensino.